“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Primeira parada: Ushuaia

A chegada

Do avião, chegando em Ushuaia, a comissária de bordo diz: 9hs30min, em Ushuaia, 0 grau. A partir disso, começamos a imaginar o frio que deveríamos esperar. Além disso, pelo pouco que vimos da janela do avião, também começamos a imaginar as belezas naturais que encontraríamos pela frente!

Realmente: Ushuaia é lindo! Diferente de qualquer paisagem que tenha visto antes, ficamos boquiabertos ao chegarmos: lindas montanhas cobertas de neve, o Canal de Beagle e uma cidadezinha com casinhas de madeira, super aconchegante.

Chegamos no Hostel Los Cosmoranes onde nos hospedamos e fomos muito bem recebidos por duas atendentes super simpáticas. Aliás todos os funcionários aqui são hospitaleiros, além de quarto limpinho e camas confortáveis.

Passeio de Barco pelo Canal de Beagle:

Como chegamos por volta das 11 da manhã, marcamos um passeio de Catamaran pelo Canal de Beagle para a mesma tarde. Foi fantástico! O passeio foi maravilhoso, com sol e céu azul o que deixava as cores mais iluminadas e as paisagens mais cheias de vida. O frio estava cortante, a sensação térmica com o vento fazia a temperatura baixar mais ainda, mas valeu muito! Ficamos agradecidos ao tempo, às belezas e por estarmos ali, um ao lado do outro podendo viver tudo isso juntos!

Deem uma olhada nas fotos deste paraíso.






Snowboarding em Cerro Castor:

Um microônibus nos pegou cedo para nos levar para famosa pista de esqui Cerro Castor. A van estava cheia de brasileiros, aliás, há brasileiros para todo lado aqui em Ushuaia. Este é o primeiro mochilão na America Latina onde encontro tantos brasileiros.

Eu e Kakau estávamos muito ansiosos para fazer snowboarding. Ela já tinha feito snow há uns 3 anos em Bariloche. Eu pratiquei muito snowboarding quando morei nos EUA, em 1996, neste período fiquei 6 meses esquiando direto até romper o menisco. Para mim não seria apenas praticar um esporte, mas reviver uma experiência de adolescente de 18 anos. Seria como andar de bicicleta ou eu pagaria mico?

O caminho já dava sinal do espetáculo que nos depararíamos, percorremos uma linda estrada sinuosa entre montanhas cobertas de neve e lagos congelados. Cerro Castor é muito bem estruturado e organizado. Suas bases de apoio, distribuídas pela montanha, são estruturadas com enormes toras de madeira muito aconchegantes. Não perdemos tempo e subimos no teleférico para primeira pista. Logo na saída do teleférico o “vídeo cassetada” começou, a Kakau caiu logo que tocou o solo e eu mais a frente. Foram muitas quedas e risadas até pegarmos o jeito.

Embora o frio fosse grande, estávamos muito felizes de estar ali esquiando naquele lugar maravilhoso. A Kakau pegou o jeito rápido e logo estava esquiando bem. Há vários níveis de pista, com maior e menor grau de dificuldade. Eu adoro esquiar. É um esporte democrático e saudável. Há pessoas de todas as idades, estilos e níveis. Eu sempre me surpreendo com as crianças esquiando, menino e meninas que mal começaram a falar descendo a toda velocidade acompanhadas de seus pais ou grupos de crianças acompanhadas de um hábil instrutor.

De fato, exige muito do físico e, especialmente, da “bunda” (risos), pois as quedas são catastróficas. Mas nada como dar uma parada em alguma base da montanha para tomar um chocolate quente e tirar as botas e luvas para “calientar” os pés em algum aquecedor.

Em razão de um dos teleféricos onde estávamos ter sido interditado para manutenção, fomos obrigados a pegar um caminho mais difícil e as quedas foram mais intensas. Eu estava mais a frente observando uma linda paisagem quando a Kakau chegou a meu lado chorando. Perguntei o que era e ela me disse que era a paisagem, mas na verdade era a dor de uma queda. Ela teve mais umas quedas, batendo novamente seu joelho já sensível.

Descemos até a base e ela decidiu parar para evitar se machucar de verdade. Ela subiu comigo sem o snowboarding até onde se podia subir sem esqui, dali em diante subi sozinho até o topo da montanha. Que visual!!! Montanhas em todas as direções cortadas por lindos vales com florestas cobertas de neve. Percorri quase todas as pistas, naturalmente com quedas homéricas, mas consegui pegar o jeito.

A corajosa Kakau tentou mais algumas vezes mas era prudente parar para não prejudicar o restante da viagem. Ela ficou na base pondo gelo no joelho e, é claro, comendo algumas empanadas. Quem conhece bem a Kakau sabe o quanto ela é boa de garfo.

Retornamos ao centro de Ushuaia incrivelmente exaustos. Geralmente a dor muscular só aparece no dia seguinte, porém para nós ela já se apresentou naquele dia mesmo, uma prévia para o que seriam os próximos dois dias, ou seja, de dor em todo corpo, sobrevivemos a base de dorflex!

Obviamente que o desgaste físico também provocou uma fome de leão. Buscamos uma indicação de um restaurante conhecido entre os locais que servisse frutos do mar. Foi assim que conhecemos o “Chico”, um lugar escondido no segundo andar de uma rua qualquer. Não preciso dizer que o lugar estava cheio e a comida era deliciosa, nós nos esbaldamos nos imensos anéis de lula à dorê e um prato servido de merluza negra. Seu Acácio iria se esbaldar aqui.