“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Puerto Madryn - Península de Valdez

Geralmente o mochilão é feito todo por terra. Inicia-se a viagem de algum lugar por avião e o retorno para casa feito pelo mesmo meio, porém de um local distante. Portanto, entre estes dois pontos (início e fim) há um longo percurso a ser percorrido, geralmente de ônibus ou carona.

A opção de se deslocar por terra e de ônibus não é apenas a mais barata, mas também a forma que nos permite contemplar melhor as paisagens, interagir com locais e outros mochileiros, descansar entre um destino e outro, e se utilizar de traslados noturnos para melhor aproveitar o tempo. Um guia nos disse uma coisa interessante, “viajar de avião é ótimo, porém não lhe permite ter uma noção real de distância e sentir a amplitude da região”.

Entretanto, como nosso tempo era curto e as distância continentais (total de viagem 15.000 kilometros), já no Brasil decidimos aproveitar o pacote oferecido pela Aerolíneas Argentinas, chamado “Visite a Argentina”. A exemplo das companhias européias, compra-se um pacote de trechos por um preço ecônomico fixo. Sendo assim, partindo de El Calafate, tínhamos um vôo agendado para Trelew, cidade vizinha à Puerto Madryn, principal acesso ao nosso próximo destino: Península de Valdez (quem puder dê uma pesquisada no google imagens).

Ocorre que para nossa surpresa e desgosto, o vôo estava cancelado, e, pior, já não havia vôos para Trelew há um mês, devido às cinzas do Vulcão chileno Puyehue. Embora Trelew se localize na costa do Oceano Atlántico e o Vulcão esteja do outro lado da cordilheira, próximo ao Pacífico, via de regra os ventos sopram do Oceano Pacífico para o Atlántico, trazendo as cinzas em linha reta para região de Trelew.

Foi um momento tenso e a Kakau estava justificadamente irritada. Poucos dias antes da data fomos à companhia aérea confirmar o vôo, pelo contrário, disseram-nos que estava tudo “Ok”. Ninguém nos avisou que há um mês os vôos para Trelew estavam cancelados e havia grandes chances de não conseguirmos usar aquele trecho. Certamente se despudessemos desta informação, teriamos tempo hábil para analisar alternativas. Eu não fiquei mais tenso porque já estava preparado psicologicamente para isso. Mario, amigo e cliente argentino, avisou-nos que a Aerolíneas Argentinas não era de confiança. Eu também estava acompanhando na mídia o caos aéreo gerado pelas cinzas do vulcão. A indignação provém do fato daquela companhia vender passagens para trechos conhecidamente com problemas e sequer avisar seus clientes dos riscos existentes para que possam conscientemente assumi-los ou não. Vamos procurar um “bom advogado” (risos)!

Fato é que precisávamos tomar uma decisão rápida. Tomar a opção ofertada pela companhia de seguir até Buenos Aires e depois para uma cidade próxima à Bariloche (pois Bariloche também não estava recebendo vôos), desta forma, abriríamos mão da Península de Valdez ou seguir de ônibus. Kakau manifestou desejo “irresistível” (risos) de ver “las ballenas” e “los pinguinos”. Aquela pensínsula é mundialmente conhecida pelo local de acasalamento e reprodução das baleias franca austral, bem como região onde está a maior concentração de pinguins do planeta. Fizemos algumas ligações do aeroporto para companhias de ônibus, fizemos alguns cálculos e decidimos seguir de ônibus, saindo direto do aerporto para rodoviária, onde embarcariamos numa viagem de vinte horas.

A viagem foi tranquila. Os ônibus argentinos são excelentes, percorrendo velocidade segura e constante pelas intermináveis rodovias patagônicas. Nem precisa dizer que dormimos o trajeto todo. Chegamos na pequena e acochegante Puerto Madryn e nos hospedamos sem dificuldade. Na primeira oportunidade fomos caminhar na orla daquela cidade portuária. Já naquela imensa baia se podia avistar algumas baleias a distância, aumentando nossa ansiedade para o tour que fariamos no dia seguinte.




 Dividimos quarto com um turco (Mehmet) e uma alemã (Ann-Kathrin), os quais coincidentemente aderiram ao mesmo tour para conhecer a Península. Mehmet e Ann não só nos acompanhariam neste passeio, mas também em muitas outras viagens, estreitando um vínculo de carinho mútuo e amizade, o que será relatado nas próximas etapas.

A nossa passagem pela Península de Valdez foi sem sombra de dúvida um dos momentos mágicos da viagem. Obrigado Kakau pela perseverança! Passamos o dia todo circulando neste istmo patagônico, com superfície de 4.000 km², repleta de salares, falésias, enseadas e animais migratórios sensacionais. Esta região foi intitulada pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade.














Pudemos avistar dezenas de baleias e seus filhotes não só a poucos metros da praia, mas também embarcados em um catamarã. O passeio de barco entre as baleias foi inequecível. Imagine-se embarcado numa baía repleta do maior mamífero do planeta e seus filhotes imensos filhotes recém nascidos. Não foram poucas as vezes que presenciamos os saltos cinematográficos destas baleias de oitenta toneladas.

A baleia-franca-austral passa os meses de verão em zonas onde abunda o krill (camarão minúsculo) junto à Antárctida. No inverno migram para norte para se reproduzirem, podendo ser vistas junto às costas da Argentina, Austrália, Brasil, Chile, Moçambique, Nova Zelândia e África do Sul. A baleia franca austral se distingue das outras pelas calosidades (sim, calos) que possui na cabeça, o que pudemos ver muito de perto. Foram muitas às vezes que vimos mãe e filho passarem por debaixo do barco, nadando lentamente nas águas cristalinas.

Tivemos o privilégio de ver a um metro de distância um filhote albino. Em alguns momentos, parecia que as baleias queriam interagir conosco, ao elevar fora d´agua, ao lado do barco, sua imensa cabeça ou seu rabo, permanecendo imóvel por longo tempo. O comandante disse que aquelas baleias são sensíveis aos fotógrafos lentos e distraídos. Vimos de muito perto cenas clássicas de fotografias famosas. Verdade seja dita, o barco era grande e balançava muito, razão pela qual não conseguimos registrar todas as imagens, digo fotografar, pois registrado está, em nossas memórias.







Acima a linda baleia franca austral e ao lado seu filhote albino. Emocionante!









Se não bastasse essa emocionante experiência, ainda percorremos a península para visitar colônias de Elefantes Marinhos. Estes animais são muito pitorescos. A fêmea atinge 3,50 metros e o macho até 6,5 metros, pesando até 4 toneladas. Nos machos, o nariz se alonga numa espécie de tromba, que originou o nome popular da espécie, o qual também é utilizado para potencializar os grunidos usados para intimidar seus oponentes e seduzir suas fêmeas. Os elefantes marinhos passam cerca de 80% das suas vidas a nadar nos oceanos, podem estar até 80 minutos sem respirar e mergulhar até aos 1700 metros de profundidade!!!!





A época de reprodução dura apenas cerca de um mês, período em que as fêmeas se concentram em diversas colônias em praias e controladas por um único macho dominante (esse fanfarrão chega a ter dezenas de fêmeas em seu harém). Ao fim deste tempo, já fecundada de novo, a fêmea regressa ao mar abandonando o harém e as crias. Cada macho dominante tem que lutar contra invasões de vizinhos e tentativas de usurpação, ao mesmo tempo que tenta cobrir o maior número possível de fêmeas no seu território. A praia fica movimentada!
Por fim, visitamos uma colônia de pinguins. Estava iniciando naquela semana a chegada destes pinguins, conhecidos como Pinguim de Magalhães. Eles chegam aos milhares naquela região para se reproduzirem. A Kakau ficou emocionada ao ver de muito perto este meigo animal em seu habitat natural.




                                                           Los Pinguinos!!!!



sábado, 24 de setembro de 2011

El Chaltén - Cerro Fitz Roy

Satisfeitos com a passagem por El Calafate, eu e Kakau seguimos ao nosso próximo destino, um pequeno “pueblo” que dá acesso a uma famosa cadeia montanhosa, destacando-se Cerro Torre e Fitz Roy, bem como o Glacial Viedma que fica no lindo lago de mesmo nome.

A mesma paisagem se repetiu ao longo da viagem, solo árido com montanhas e picos nevados ao fundo, marca registrada na Patagonia. A Patagonia argentina é uma imensa área que forma um triangulo, representando quase um terço do território argentino, tendo Puerto Madryn e Bariloche como suas extremidades ao norte e Ushuaia no vértice ao extremo sul.

O nome 'Patagônia' se originou da palavra "Patagones" (homens de pés grandes) usado por Fernão de Magalhães para descrever o povo nativo como gigantes. Acredita-se atualmente que os patagones seriam os nativos tehuelches, que tinham uma altura média de 1,80 m, em comparação com os 1,55 m de média dos espanhóis da época.

A estrada cortava longas planicies de estepes, onde despassadamente se encontravam pedras enormes, as quais destoavam da paisagem. A simpática guia Jimena nos explicou que as pedras foram arrastadas de outros lugares no período gracial na medida que as geleiras avançavam. Observar os glaciais daqui dá uma outra visão e noção do que representavam os glaciais na época e sua influência na formação de vales, fiordes, lagoas, desfiladeiros, cavernas etc de hoje.

Nesta região está o espetacular “Campo de Hielo Sur”, a terceira maior extensão de gelo continental do mundo (área de 16.800 km²), situado entre Argentina e Chile, atrás apenas da Antárctida e da Groelândia. Uma parte significativa do campo de gelo se encontra protegida pelo parque argentino Parque Nacional Los Glaciares (onde Perito Moreno e El Chaltén se encontram) e pelos chilenos Parque Nacional Torres del Paine (já mencionamos) e Parque Nacional Bernardo O'Higgins.

Ao contornar todo lago Viedma, avistamos ao fundo a imponente cadeia montanhosa, cujo pico máximo é o Fitz Roy. Os passageiros do nosso onibus eram em sua maioria estrangeiros e todos sacaram suas respectivas máquinas fotográficas para registrar aquela visão mágica.

                                          Na estrada, a vista do Fitz Roy
A chegada ao vilarejo é realmente sensacional. El Chaltén está ao pé do Fitz Roy, cercada por montanhas menores e cortada por um rio. A estrada ruma em direção às montanhas, mas não é possível visualizar a vila. Somente quando realmente estamos muito próximos, diante de uma espécie de “portal” natural de pedra, é que se avista a pequena vila de quase 1 mil habitantes.
                                                Chegando em El Chaltén
A semi-cidade de El Chaltén é a única cidade localizada dentro do Parque Nacional Los Glaciares e se auto-denomina “Capital Nacional do Trekking”. Este pueblo se prepara para adquirir o título de cidade, cuja economia gira 100% em torno do turismo, com ritmo de crescimento surpreendente.

Hospedamo-nos num agradável “Bed & Breakfest” e decidimos trocar o almoço por uma trilha “curta”. Tinhamos consciência que ingressar em trilhas em regiões frias como esta requer prudência, haja vista que se perder até o anoitecer pode significar morte por hipotermia.

Buscamos informações junto ao “guarda-parque” local e pegamos uma trilha que dá visão lateral do Fitz Roy e frontal do Cerro Torre. O dia estava lindo e o guarda sugeriu aproveitarmos aquela condição favorável, haja vista que El Chaltén é mundialmente conhecida pela instabilidade climática, responsável pela morte de muitos escaladores, inclusive de um brasileiro recentemente (mais a frente mencionarei). Após uma boa caminhada, subindo as lindas montanhas, caminhando entre árvores retorcidas e alguns trechos sobre a neve, chegamos ao mirador indicado. Estasiados com aquele visual, sentamos para devorar nosso lanche, entorpecidos de endorfina.

                                                       A pequenina El Chalten





Ficamos tentados a seguir adiante, com vistas a alcançar o campo de gelo e o pé do Cerro Torre, onde há um grande lago totalmente congelado. Porém, na medida que encontrávamos pessoas que estavam voltando da caminhada, convencemo-nos a deixar a caminhada mais longa para o dia seguinte.

Esta decisão foi acertada por um lado e infeliz por outro aspecto. Correta porque a Kakau sentiu dores no joelho no retorno da caminhada curta, portanto, esticar o trajeto caminhando sobre a neve geraria um estresse indesejável. Entretanto, nossos planos de realizar uma longa caminhada no dia seguinte se frustrou, devido a brusca mudança climática naquela noite.

Aquele pequeno pueblo, localizado no semi-deserto e ao pé de pontiagudas montanhas, foi fortemente arrebatado por fortíssimos ventos que nos impressionaram, e, porque não dizer nos assustaram. A hospedagem onde estávamos literalmente chacoalhava. Durante toda noite tivemos que conviver com um alarme do aqueceder que disparava de tempos em tempos, avisando que o vento havia apagado a caldeira. Todas as construções naquela região dispõe de duplas portas e cômodos separados por outras portas, como medida preventiva em caso de quebra de portas e vidros. A gerente da hospedagem e xará da Karina nos disse que, em caso de acidente, se o vento circular livremente pela casa, há sérios riscos do telhado ser arrancado, razão pela qual todas as portas intermediárias deveriam permanecer fechadas em dias de fortes ventos, os quais eram constantes naquela região.

Naquela noite fomos dormir tarde, pois sabiamos que no dia seguinte não conseguiriamos fazer a trilha que desejávamos. Além dos ventos e chuva intermitente, todas as montanhas estavam completamente cobertas por nuvens, o que certamente tiraria o entusiasmo das trilhas. Ficamos lendo na internet a impressionante história do brasileiro que morreu naquelas montanhas em janeiro deste ano, Bernardo Collares. Ele era um escalador experiente, presidente da associação carioca de montanhismo, que perdeu sua vida no Fitz Roy.

Bernardo estava retornando do cume do Fitz Roy quando teve um grave acidente e machucou a região pélvica. Sua companheira, Kika, ajudou a acomodá-lo num platô e juntos decidiram que ela deveria descer para buscar ajuda. Ela enfrentou 40 rapéis sozinha, uma longa caminha na neve e após quase dois dias alcançou o refúgio. Entretanto, o tempo piorou e não foi possível enviar um resgate para Bernardo. Somente após quase um mês, uma equipe subiu para resgatar o corpo e não o encontrou, havia apenas alguns itens onde ele ficou deitado (uma foto foi tirada). Muita polêmica surgiu em torno deste episódio, destacando-se algumas cartas abertas publicadas na internet, como a escrita pela mãe do Bernardo, da Kika e a emocionante carta de despedida do irmão.

Esta história mecheu muito conosco. Chegamos a conversar com alguns locais sobre estes espisódio, os quais também nos relataram outra trágica morte naquele ano. Há uma tradicional expedição em El Chaltén que leva turistas pelo Campo de Gelo, durante 7 a 9 dias. Estas expedições são técnicas e conduzidas por guias locais experientes. Um grupo saiu em fevereiro, ciente de que enfrentariam apenas um dia de forte tempestade. No meio do caminho se preparam para ela, abrigando-se em suas barracas. Entretanto, a tempestade de neve ganhou uma magnitude maior que a esperada, atigindo-os em cheio. Os ventos destruiram as barracas e levaram todos os equipamentos. Um mexicano do grupo (42 anos) não resistiu e morreu de hipotermia. Curioso que um dos integrantes do grupo de 70 anos, havia desistido da expedição e retornou com um guia antes. Eles também foram atingidos pela tempestade, porém resistiram e foram resgatados a tempo.

No dia seguinte, fizemos uma trilha longa porém “light”, longe da neve e de qualquer risco de nos perdermos. Subimos outras montanhas rochosas para ver de perto o símbolo máximo da Cordilheira Andina, o Condor. Avistamos estas grandes aves plainando próximas às paredes de pedra, dando um show de leveza e perfeição. Ao atingirmos o ponto máximo das montanhas, deparamo-nos com uma fantástica paisagem, o Lago Viedma, o Glacial e as Montanhas nevadas. A Kakau se emocionou,  permanecemos sentados pelo tempo que o frio e o vento nos permitiram.




sábado, 17 de setembro de 2011

El Calafate - Glacial Perito Moreno

Hoje dei uma folga para o Pablito então sou eu quem irá descrever esta parte fantástica da viagem.

Depois do “perrengue” que passamos na viagem de ônibus até El Calafate veio esse passeio fabuloso para o Glacial Perito Moreno.

Uma van nos pegou no hostel as 9 da manhã e conhecemos nossa guia Jimena que desde o começo foi super simpática e atenciosa conosco. Falou-nos sobre a história de El Calafate, da vegetação, da fauna local e claro, do nosso destino Glacial Perito Moreno.

O glacial possui cinco quilômetros de largura e 80 metros de altura. Seu nome é uma homenagem a Francisco Pascasio Moreno, criador da Sociedade Científica Argentina e um renomado pesquisador da região. O glacial é considerado uma das reservas de água doce mais importantes do mundo. Já foi chamada de a "oitava maravilha do mundo" e é considerada um patrimônio da humanidade pela UNESCO. Localizada em uma zona rodeada por bosques e montanhas, está dentro do Parque Nacional Los Glaciares que  possui um total de 356 geleiras.

Esta geleira avança 2 metros por dia em direção ao Lago Argentino e devido a este movimento, imensos blocos de gelos chocam-se entre sim, racham e caem sobre o lago, provocando barulhos monstruosos e formando um espetáculo a parte.  Uma demonstração de poder e majestade da natureza. Torcemos então para termos sorte de ver um grande desprendimento.

Chegando ao Parque Nacional a nossa guia nos sugeriu um passeio de barco que chega próximo as geleiras. Fomos então fazer o passeio de catamaran para depois passearmos nas passarelas que cercam os glaciais. O frio estava de rachar e logo que saimos com o barco, começou a ventar muito e a chover. Quando estávamos chegando perto dos glaciais saímos para tirar algumas fotos, mas logos retornamos porque o vento e o frio estavam muito fortes. Ficamos então mais um pouco no quentinho esperando a chuva passar. Após mais ou menos 10 minutos, São Pedro resolveu dar uma trégua e o tempo começou a abrir. Fomos para a lateral do barco onde pudemos ver muito melhor as geleiras junto com o sol que cada vez brilhava mais forte.

                                                    As geleiras vistas do barco

Após o passeio de barco que durou mais ou menos 1 hora, retornamos a van que nos levou à parte do parque onde estão as passarelas. A caminhada pelas passarelas foi fantástica pois podemos observar o lado sul e o lado norte das geleiras, além de poder vê-las de cima e de baixo. Quando olhamos de baixo para cima, podemos ver o quanto ela é imponente, com seus 80 metros de altura.

Ficamos cerca de 3 horas caminhando nas passarelas e em alguns momentos ficávamos sentados só admirando, esperando o próximo bloco de gelo se desprender. O enorme estrondo provocado pelo impacto do gelo com a água, em contraste com o silêncio que reinava no local, fazia o coração bater mais forte e às vezes me assustava. O Pablito dava risada cada vez que eu me assustava com o barulho.






Mais uma vez ficamos lisonjeados de estarmos ali, vivenciando mais um espetáculo da natureza. Realmente o Glacial Perito Moreno merece ser considerado a oitava maravilha do mundo e quem tiver a oportunidade deve conhecê-lo.

Ao fim do passeio a van nos levou de volta a El Calafate onde passeamos pelo centro e voltamos para o hostel. Lá o Pablito fez uma jantinha maravilhosa pra nós e pudemos descansar de barriga cheia e cheios de história pra contar.

De Puerto Natales a El Calafate

Deixamos a cidade chilena de Puerto Natales e seguimos em direção à Argentina, visando conhecer o Glacial Perito Moreno e a Montanha Fitz Roy, próximos às cidades de El Calafate e El Chaltén, respectivamente.

Esta viagem foi uma experiência à parte. O Chile é um país muito estreito e longitudinal, cuja divisa com a Argentina coincide com barreira natural da Cordilheira dos Andes. Portanto, para sairmos de um país para outro, obrigatoriamente iríamos cruzar não só a fronteira, mas também a imensa Cordilheira. Do lado chileno havia muita neve, devido à umidade oriunda do Oceano Pacífico, do lado Argentino clima seco e árido.

A paisagem é muito forte e marcante. A estrada corta longas planícies totalmente áridas, com pequenos arbustos ressecados e retorcidos, cercadas de altas montanhas de cumes congelados. Constantemente aparecem rebanhos selvagens de guanacos e lebres cruzando a rodovia. A espreita, ao longo da rodovia, posicionam-se enormes gaviões e falcões aguardando a má sorte de alguma lebre em sua travessia. Disse-nos a guia que a rodovia amanhece com muitas lebres atropeladas, atraídas pelos faróis dos poucos automóveis que rodam por aquelas estradas, porém em poucas horas os gaviões se encarregam da limpeza.

Na maior parte do tempo a viagem foi tranqüila, muito bem conduzida pelo sósia do Maurício de Souza. Entretanto, o clima esquentou, apenas no sentido metafórico, quando iniciamos uma parte muito íngreme da estrada, logo após a fronteira, onde a neve cobria a estrada e os terríveis ventos chacoalhavam o ônibus.

Todos os passageiros, em sua maioria turista, acordaram, apreensivos com o momento, porém ávidos em registrar aquele trecho com suas poderosas câmeras fotográficas. Houve dois episódios de grande tensão. Um deles quando o ônibus literalmente deslizou pela pista, derrapando de lado até o acostamento quando aderência voltou e o motorista retomou o controle da direção. Outro momento inesquecível foi quando nos deparamos com dois carros atolados na neve em meio a pista. Para nossa surpresa o motorista acelerou em direção àqueles carros, fazendo uma manobra arrisca entre eles. Foi possível ver a expressão de desespero dos respectivos condutores com a aproximação do ônibus.


                                                 Acima a estrada tomada pela neve

 
Mais a frente, deparamo-nos com mais veículos atolados, estes nas laterais da pista. Imediatamente após o cume da montanha, onde incrivelmente o clima era completamente diferente, sem qualquer neve, havia um posto de apoio à limpeza das estradas, com muitas máquinas, onde motorista parou para avisar o que havia sucedido.

Chegando em El Calafate, fomos recepcionados pelo simpático Bruno, que nos levou ao Hostel los Glaciares, por sinal um hostel muito bonito e confortável, o melhor custo-benefício até este momento.

El Calafate e abaixo (castelinho) o hostel onde ficamos

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Em Puerto Natales: Parque Nacional Torres del Paine

 Parque Nacional Torres del Paine

O microônibus nos pegou cedo e seguimos por quase duas horas até chegar ao Parque Torres del Paine. Declarado pela Unesco como Reserva da Biosfera, é um imenso parque repleto de lagos, rios, cascatas e glaciares. Um lugar perfeito para os amantes da natureza e especialmente para os adeptos a longas caminhadas. Há diversas trilhas de 1 a 7 sete dias ao redor das motanhas conhecidas como Los Cuernos (veja foto e entenderás o nome). Como não tinhamos muitos dias para passar por aqui resolvemos fazer o passeio de 1 dia.





Junto a nós estavam alguns equatorianos, um pessoal divertido e simpático, com quem trocamos favores na hora de tirar fotos. Ao longo da estrada nos deparamos com muitas paisagens cinematográficas e animais selvagens cruzando a rodovia. Diversas vezes tivemos que parar o carro para aguardar a travessia de animais, como rebanho de Guanacos (da família das lhamas, vicunas, alpacas etc), Avestrues, Carneiros e até uma Raposa e um lindo Gambá (aquele peludinho, com uma listra branca nas costas, igual ao do desenho, o Pepe le Pew).

Não há como descrever a beleza natural daquele parque. Nós já tinhamos visto algumas fotos da região, mas contemplar de pertinho aquelas montanhas nos causou imensa perplexidade e inesquecível êxtase. Este é um dos lugares que pretendemos retornar com mais calma para percorrer a trilha completa, aberta somente durante o verão.




No final do passeio pelo parque, nosso guia nos levou a um lugar curioso que chama-se “Cueva del Milodón”. O Milodón foi um animal que viveu a mais ou menos 10.000 anos atrás e era uma espécie de bicho preguiça gigante que vivia em uma caverna (Cueva). Acreditava-se que este animal foi domesticado pelos homens que viviam no local, devido às pinturas rupestres encontradas na caverna.  Visitamos então a caverna do milodón, que é grande e muito bonita. No final da trilha que há dentro dela, há uma replica do animal.



Foi um dia para guardarmos na memória com lugares surpreendentes e beleza exuberante.