“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mendoza- Argentina

Partimos de avião de Salta rumo à nossa última parada: Mendoza. A expectativa era grande, não só por conhecer este famoso destino turístico, mas também porque lá encontraríamos os pais da Karina e tentaríamos conhecer o parque Aconcágua, ou seja, o ponto mais alto das Américas.

O voo foi tranquilo e fabuloso. Somente sobrevoando aquela imensidão nos demos conta de que Mendoza fica no meio de um grande deserto ao pé das muralhas formadas pela Cordilheira dos Andes. Sem qualquer exagero, Mendoza é um oásis no meio de uma região sem fim de aridez.



 Mal chegamos em nosso bem estruturado hostel, seguimos ansiosamente ao hotel onde os pais da Karina estavam hospedados. Eles já nos aguardavam com as reservas de um citytour. Não paramos um segundo, sequer para almoçar, do avião para hostel, depois hotel e, em seguida, para a van que iria percorrer toda a cidade.

 Geralmente, não fazemos citytour, pois tentamos conhecer tudo por conta própria, mas este realmente valeu a pena. Conhecemos a marca registrada da cidade, suas lindas e arborizadas praças, dispostas geometricamente por toda cidade. No passado houve um tremendo terremoto que devastou a cidade. Assim, a cidade foi reconstruída, priorizando a construção de praças onde as pessoas poderiam se abrigar durante um novo abalo sísmico.






 Outra marca registrada da cidade são os canais de irrigação e distribuição de água. Eles estão por toda parte, ora secos, ora repletos de água circulando velozmente. Este sistema foi introduzido pelos Incas, de forma a aproveitar a água do degelo andino para irrigar plantações em regiões semidesérticas. Quem está dentro da cidade de Mendoza, naquele centro urbano repleto de árvores, não se dá conta que ali antes era totalmente árido, porém basta sair da cidade para se dar conta disso.

Havia outros brasileiros na excursão pela cidade. Conhecemos um simpático casal que ficou interessado na nossa conversa a respeito do parque Aconcágua. Eles desconheciam a possibilidade de chegar perto daquele monumento natural, razão pela qual nos acompanharam até nosso hostel de forma a aderir nosso projeto para o dia seguinte, fazer um tour day até aquele parque. A noite um gostoso jantar com o delicioso vinho de Mendoza, nos fez relaxar e aproveitar a compania do Sr. Palla e Dna. Marlene.


Este passeio realmente vale a pena. A viagem é longa e cansativa, porém revela a beleza da Cordilheira dos Andes. Partimos cedo de Mendoza, que fica a menos de 1 mil metros de altitude, com destino à entrada do Parque do Aconcágua a quase 4 mil metros. Já dá para imaginar o quão sinuosa e incrível é a estrada, a mesma que une a Argentina e Santiago/Chile, repleta de abismos e tuneis cavados na pedra.



Dentre as inúmeras estórias desta incrível passagem, a mais contada está ligada ao general argentino José de San Martín, responsável pela independência da Argentina, Chile e Peru. Depois de libertar a Argentina da coroa espanhola, o companheiro de Simón Bolívar, marchou rumo ao Chile para ajudar a conquistar sua independência.

Paramos para conhecer a conhecida ponte natural Puente del Inca, por onde os Incas atravessavam um rio e, finalmente, chegamos ao Parque Provincial Aconcágua, o qual abriga a montanha de mesmo nome nome (Sentinela de Pedra), com seus 6 962 metros de altitude. Ela é simultaneamente o ponto mais alto das Américas, de todo o Hemisfério Sul e o mais alto fora da Ásia.

                                                                A ponte del Inca



O parque estava fechado, porém era possível fazer uma caminhada até um miradouro. Bravamente os pais da Karina nos acompanharam. Foi surpreendente e emocionante ver o Sr. Palla caminhar com disposição àquela altitude (4.100 metros), alguns meses após uma séria cirurgia no pulmão. Acredito que foi uma superação para ele e uma grande lição e orgulho para nós. Naquela noite tivemos um agradável jantar de despedida com os pais da Karina, pois nós ainda ficaríamos alguns dias.



Exemplo de superação. Aguentou firme a altitude!



                                                        Mirador do Cerro Aconcagua

Nos dias que sucederam, fizemos alguns passeios por conta própria e outros com a agência do Hostel. Como não poderia ser diferente, visitamos algumas vinícolas e desfrutamos do azeite extra virgem de uma fábrica local. Também fizemos rapel e terminamos o dia numa terma. Embora o frio fosse grande, as águas quentes e borbulhantes nos ofereciam um relaxamento total.










Degustação de vinhos... hummm



 A caminho do paredão onde fizemos o Rapel



                                                 Pablito e seu novo amigo






                                                     As termas pra relaxar um pouco

Nosso último passeio por Mendoza foi marcado por uma longa caminhada pelo grandioso Parque Independência e pelo sinistro Zoológico, repletos de animais de todos os continentes, alguns até assustavam de tão perto que ficavam do público..
                                                                         
                                                                                  

                                                        A entrada do Paque Independência




                                                      No Zoológico









Esta viagem certamente ficará marcada em nossas almas. Nossos países vizinhos são de uma riqueza natural e cultural exuberantes. Fomos sempre muito bem acolhidos nestes dois países, os quais definitivamente cativaram nossos corações. Esta aventura também ficará marcada como o primeiro longo mochilão juntos, eu e Karina, o que certamente nos encoraja a fazer planos mais audaciosos. Aguardem!


                                                              Nosso jantar de despedida

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Salta - Argentina

Chegamos em Salta por volta da meia noite. Estávamos exaustos, nos hospedamos em um simplório hostel e descansamos porque no dia seguinte faríamos um passeio de sonhos: O trem das nuvens.















O trem das nuves (Tren a las nubes), percorre um trajeto de 434 quilômetros de ida e volta, entre planícies, vales e montanhas. A viagem recria parte do caminho que os súditos do Império Inca faziam há alguns séculos e permite conhecer a natureza da Cordilheira dos Andes em todos os aspectos.

Acordamos cedíssimo e nos dirigimos à estação. O trem partiu as 7 da manhã, estávamos sonolentos e ainda cansados da viagem de ônibus do anterior, porém as lindas paisagem que surgiam no caminho e o café que foi servido nos fez acordar. Na partida ainda estava escuro e ver o nascer do sol de dentro do trem foi algo fascinante. Aos poucos, a paisagem vai mudando: do verde das plantações de hortaliças e tabaco, passou ao marrom árido das estepes andinas.















A nossa frente estavam dois simpáticos senhores Carlos e Bernardo, de 60 e 63 anos, argentinos de Santa Fé e amigos de infância que foram a Salta curtir alguns dias de descanso. No início pareciam dois velhos carrancudos, mas com o passar das horas foram se soltando e se mostrando muito simpáticos e divertidos.

                                          Nossos companheiros de trem: Carlos e Bernardo


O trem passa por diversas paisagens, montanhas rochosas, quenions, pequenos povoados indígenas, plantações de cactos e chega até uma ponte lindíssima que está localizada a 4200m de altitude. A viagem é linda e segura, pois durante as 16 horas de trajeto, dois carros de segurança e uma ambulância acompanham o trem. Isso dá mais tranquilidade à viagem.









Ao chegarmos ao Viaduto La Polvorilla (após 8 horas de viagem), descemos do trem e passeamos um pouco pela região, que estava repleta de indígenas vendendo seus artesanatos. Subimos até um mirador, tiramos algumas fotos e retornamos ao trem para a viagem de volta a Salta. Nesta subida ao mirador senti mais os efeitos da altitude (estávamos a 4200m), fiquei ofegante, com a cabeça pesada e sonolência, mas um chazinho de coca fez melhorar. Além de ser gostoso, é digestivo e deixa desperto. Pena que é proibido aqui no Brasil, pois é desta planta que é fabricada a cocaína. O Pablito sentiu um pouco de tontura e dor de cabeça mas com o chá ficou melhor também. É engraçado ver os moradores da região com uma bola de folhas de coca na bochecha. Dessa forma ela dissolve e deixa a pessoa “ligada”.


Viaduto La Polvorilla






 
Foram mais 8 horas de retorno. Dormimos um pouco, comemos, assistimos filme e, no final, cantores típicos subiram no trem e divertiram o pessoal. No nosso vagão só tinha nós dois de brasileiros, o resto eram argentinos e alguns europeus. Depois dos cantores, colocaram karaokê ai o pessoal se animou! Faziam “trenzinho”, pulavam, dançavam, foi muito mais muito engraçado, principalmente os dois senhores argentinos que “soltaram a franga”.

A viagem pelo Trem das Nuvens foi maravilhosa. Conhecemos pessoas especiais, vimos o nascer e o por do sol, tendo como plano de fundo lindas paisagens e nos divertimos muito. Essa também vai ficar gravada, no coração e na memória. Eis um vídeo bacana sobre o trem: http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL986580-16022,00-TREM+DAS+NUVENS+REFAZ+ANTIGO+CAMINHO+INCA.html



















 Ao final o por do sol


No outro dia passeamos pela cidade de Salta e subimos o Cerro San Bernardo de teleférico, onde há uma linda vista da cidade. A cidade de Salta é uma das mais importantes cidades do norte do país, localizada a leste da Cordilheira dos Andes, a cerca de 1187m de altitude. Ela preserva a arquitetura da época colonial, com diversos museus e igrejas construídas nessa época.




A vista do Cerro San Bernardo


A tarde fomos ao Dique Cabra Coral, onde há um lindo lago onde as pessoas locais passam os finais de semana para acampar, pescar e se divertir com suas famílias. Foram mais ou menos 2 horas de ônibus público. Foi muito interessante ver as famílias reunidas, a maioria descendente de indígenas, indo passear, fazer piquinique e pescar. Algumas com 5, 6 filhos.














Passeamos por lá, onde há uma ponte muito bonita, sentamos em um barzinho a beira do lago para tomar um café e aguardar o ônibus de volta. A volta foi engraçada, com o ônibus lotado da população local, o pessoal entrando no ônibus com barraca, vara de pescar, nós sentados ajudando a segurar as coisas do povo. Foi muito engraçado e legal ao mesmo tempo, pois pudemos sentir um pouquinho como é a diversão do pessoal que mora lá.


Cafayate

 No dia seguinte seguimos para uma cidade ao sul de Salta chamada Cafayate. Cafayate se localiza dos valles calchaquíes, com uma variedade de paisagens e cores, além de ser famosa pelo bom vinho.  A atividade cultural do valle de Cafayate se centraliza nas adegas e na elaboração do vinho característico das uvas brancas de origem torrontes. Os artesanatos, que podem encontrar no mercado artesanal, possuem resquícios da cultura aborigene.

Eu não tinha nem ideia das paisagens que estariam por vir. Estava super sonolenta no ônibus (pra variar um pouco) quando fizemos a primeira parada. Despertei rapidinho quando me deparei com a Quebrada de las Conchas. A quebrada é umas das paisagens características do noroeste, com suas formações de rochas erosivas que tem formas vivas e diferentes, como exemplo ¨Los Castillos¨, com um vermelho intenso semelhante aos castelos medievais. ¨El Anfiteatro¨, formado pelo desgaste das pedras em contato com a água, onde a acústica é perfeita e artistas argentinos relacionados ao folclore e a música popular apresentaram-se neste lugar. E a ¨Garganta del Diablo¨, é uma imensa parede circular de 50 metros de altura, semelhante a uma traquéia humana. Eu e Pablito ficamos boquiabertos com a beleza daquelas paisagens e admirados mais uma vez com o poder da natureza.















































                                                   El Anfiteatro: impressionante!
                                                     

Chegando em Cafayate visitamos a vinícola Domingo Hermanos onde pudemos aprender um pouquinho sobre a produção do vinho, ver o parreirais e degustar o vinho produzido por eles. Passeamos um pouco pela cidade, almoçamos e lá pelas 3 da tarde retornamos a Salta. Jantamos e descansamos nos preparando para o dia seguinte quando seguiríamos para Mendoza. Nossa última parada!


Degustação de vinho: sempre bom!