“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

sábado, 17 de setembro de 2011

El Calafate - Glacial Perito Moreno

Hoje dei uma folga para o Pablito então sou eu quem irá descrever esta parte fantástica da viagem.

Depois do “perrengue” que passamos na viagem de ônibus até El Calafate veio esse passeio fabuloso para o Glacial Perito Moreno.

Uma van nos pegou no hostel as 9 da manhã e conhecemos nossa guia Jimena que desde o começo foi super simpática e atenciosa conosco. Falou-nos sobre a história de El Calafate, da vegetação, da fauna local e claro, do nosso destino Glacial Perito Moreno.

O glacial possui cinco quilômetros de largura e 80 metros de altura. Seu nome é uma homenagem a Francisco Pascasio Moreno, criador da Sociedade Científica Argentina e um renomado pesquisador da região. O glacial é considerado uma das reservas de água doce mais importantes do mundo. Já foi chamada de a "oitava maravilha do mundo" e é considerada um patrimônio da humanidade pela UNESCO. Localizada em uma zona rodeada por bosques e montanhas, está dentro do Parque Nacional Los Glaciares que  possui um total de 356 geleiras.

Esta geleira avança 2 metros por dia em direção ao Lago Argentino e devido a este movimento, imensos blocos de gelos chocam-se entre sim, racham e caem sobre o lago, provocando barulhos monstruosos e formando um espetáculo a parte.  Uma demonstração de poder e majestade da natureza. Torcemos então para termos sorte de ver um grande desprendimento.

Chegando ao Parque Nacional a nossa guia nos sugeriu um passeio de barco que chega próximo as geleiras. Fomos então fazer o passeio de catamaran para depois passearmos nas passarelas que cercam os glaciais. O frio estava de rachar e logo que saimos com o barco, começou a ventar muito e a chover. Quando estávamos chegando perto dos glaciais saímos para tirar algumas fotos, mas logos retornamos porque o vento e o frio estavam muito fortes. Ficamos então mais um pouco no quentinho esperando a chuva passar. Após mais ou menos 10 minutos, São Pedro resolveu dar uma trégua e o tempo começou a abrir. Fomos para a lateral do barco onde pudemos ver muito melhor as geleiras junto com o sol que cada vez brilhava mais forte.

                                                    As geleiras vistas do barco

Após o passeio de barco que durou mais ou menos 1 hora, retornamos a van que nos levou à parte do parque onde estão as passarelas. A caminhada pelas passarelas foi fantástica pois podemos observar o lado sul e o lado norte das geleiras, além de poder vê-las de cima e de baixo. Quando olhamos de baixo para cima, podemos ver o quanto ela é imponente, com seus 80 metros de altura.

Ficamos cerca de 3 horas caminhando nas passarelas e em alguns momentos ficávamos sentados só admirando, esperando o próximo bloco de gelo se desprender. O enorme estrondo provocado pelo impacto do gelo com a água, em contraste com o silêncio que reinava no local, fazia o coração bater mais forte e às vezes me assustava. O Pablito dava risada cada vez que eu me assustava com o barulho.






Mais uma vez ficamos lisonjeados de estarmos ali, vivenciando mais um espetáculo da natureza. Realmente o Glacial Perito Moreno merece ser considerado a oitava maravilha do mundo e quem tiver a oportunidade deve conhecê-lo.

Ao fim do passeio a van nos levou de volta a El Calafate onde passeamos pelo centro e voltamos para o hostel. Lá o Pablito fez uma jantinha maravilhosa pra nós e pudemos descansar de barriga cheia e cheios de história pra contar.

De Puerto Natales a El Calafate

Deixamos a cidade chilena de Puerto Natales e seguimos em direção à Argentina, visando conhecer o Glacial Perito Moreno e a Montanha Fitz Roy, próximos às cidades de El Calafate e El Chaltén, respectivamente.

Esta viagem foi uma experiência à parte. O Chile é um país muito estreito e longitudinal, cuja divisa com a Argentina coincide com barreira natural da Cordilheira dos Andes. Portanto, para sairmos de um país para outro, obrigatoriamente iríamos cruzar não só a fronteira, mas também a imensa Cordilheira. Do lado chileno havia muita neve, devido à umidade oriunda do Oceano Pacífico, do lado Argentino clima seco e árido.

A paisagem é muito forte e marcante. A estrada corta longas planícies totalmente áridas, com pequenos arbustos ressecados e retorcidos, cercadas de altas montanhas de cumes congelados. Constantemente aparecem rebanhos selvagens de guanacos e lebres cruzando a rodovia. A espreita, ao longo da rodovia, posicionam-se enormes gaviões e falcões aguardando a má sorte de alguma lebre em sua travessia. Disse-nos a guia que a rodovia amanhece com muitas lebres atropeladas, atraídas pelos faróis dos poucos automóveis que rodam por aquelas estradas, porém em poucas horas os gaviões se encarregam da limpeza.

Na maior parte do tempo a viagem foi tranqüila, muito bem conduzida pelo sósia do Maurício de Souza. Entretanto, o clima esquentou, apenas no sentido metafórico, quando iniciamos uma parte muito íngreme da estrada, logo após a fronteira, onde a neve cobria a estrada e os terríveis ventos chacoalhavam o ônibus.

Todos os passageiros, em sua maioria turista, acordaram, apreensivos com o momento, porém ávidos em registrar aquele trecho com suas poderosas câmeras fotográficas. Houve dois episódios de grande tensão. Um deles quando o ônibus literalmente deslizou pela pista, derrapando de lado até o acostamento quando aderência voltou e o motorista retomou o controle da direção. Outro momento inesquecível foi quando nos deparamos com dois carros atolados na neve em meio a pista. Para nossa surpresa o motorista acelerou em direção àqueles carros, fazendo uma manobra arrisca entre eles. Foi possível ver a expressão de desespero dos respectivos condutores com a aproximação do ônibus.


                                                 Acima a estrada tomada pela neve

 
Mais a frente, deparamo-nos com mais veículos atolados, estes nas laterais da pista. Imediatamente após o cume da montanha, onde incrivelmente o clima era completamente diferente, sem qualquer neve, havia um posto de apoio à limpeza das estradas, com muitas máquinas, onde motorista parou para avisar o que havia sucedido.

Chegando em El Calafate, fomos recepcionados pelo simpático Bruno, que nos levou ao Hostel los Glaciares, por sinal um hostel muito bonito e confortável, o melhor custo-benefício até este momento.

El Calafate e abaixo (castelinho) o hostel onde ficamos