“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

De Ushuaia para Puerto Natales

Este dia foi sem grandes emoções, pelo contrário, como tudo na vida, a viagem não é só de rosas. Saímos de taxi numa madrugada congelante para pegar o primeiro ônibus de uma série, até chegarmos na cidade chilena de Puerto Natales. Foram horas intermináveis numa estrada de rípio, cortando planícies inóspitas. Conseguimos dormir quase todo o trajeto, acordando apenas para reclamar das dores musculares e com o choro da criançada atrás de nós. Esta é mais uma característica que eu e a Kakau temos em comum, basta fecharmos os olhos que dormimos de imediato.

A monotonia da viagem só foi interrompida pela burocrática passagem alfandegária e pela travessia de balsa pelo conhecido Estreito de Magalhães, passagem obrigatória dos navios que partem do oceano atlântico com destino a algum porto do oceano pacífico ou vice-versa. Este era o único caminho até a construção do Canal do Panamá. Em razão deste estreito com 600 km de extensão, a Ushuaia fica literalmente numa ilha.



Acima, a travessia de balsa pelo Estreito de Magalhães

O frio e o vento eram de cortar a alma. Vimos alguns golfinhos pretos e brancos, pareciam mini orcas. Fiquei imaginando como seria o barco do português Fernão de Magalhães, o primeiro europeu a por lá navegar em 1520? Como seria sua tribulação? Como se protegiam daquele clima cruel? Do que se alimentavam? O que os levou a esta jornada? Quanta coragem e aventura!

Passamos também pela cidade chilena de Punta Arenas no final do dia, onde conseguimos um agradável jantar antes de embarcar no último ônibus até nosso destino final. Não agüentávamos mais comer barrinhas de cereal e tomar água do “camelback”. A cidade, com seus 150 mil habitantes de maioria descente de croatas, pareceu-nos muito agradável, organizada, limpa e de casas bem construídas. Lembrei-me do Malcon que havia parado nesta cidade quando trabalhou no cruzeiro. É incrível como aquelas pessoas conseguem viver naquela temperatura, cuja média anual não passa dos 5ºC.

Chegamos a Puerto Natales tarde da noite e logo nos hospedamos num razoável Hostel, onde conseguimos contratar nosso passeio para o dia seguinte, o esperado Parque Torres Del Paine.