Eis as publicações que faltavam dessa maravilhosa viagem pela Argentina e Chile
De Santiago ao Deserto do Atacama
Deixamos
a cidade chilena de Pucón realizados pelas fantásticas experiências, porém um
pouco tristes por nos separarmos de Mehmet e Ann. Eles sabiamente decidiram
ficar um pouco mais em Pucón, antes de partir para Santiago, onde embarcariam
de volta para Alemanha, após 6 meses de viagem pela América do Sul.
Eu
já tive a oportunidade de comentar isso com alguns amigos e direi novamente. É
impressionante como as amizades surgidas nestas viagens tem uma intensidade
fora do normal. Uma tarde, um dia ou uma semana de convivência formam vínculos
muito fortes. Não foram poucas as vezes que num intervalo de tempo muito curto,
tivemos oportunidade de conhecermos pessoas e formarmos uma intimidade e
carinho mútuo que na maioria das vezes não construímos com pessoas que fazem
parte de nosso dia-a-dia.
Viajar
neste estilo, mochila nas costas e hospedagem em hostels, permite conhecer
pessoas e fazer novos amigos de todo lugar do mundo. Pessoas que se propõem a
viajar desta forma, geralmente são solícitas e abertas a novas amizades.
Diferentemente de se hospedar num hotel, onde as pessoas mal se cruzam no lobby.
A maior
parte das pessoas que conhecêssemos gostaria de viajar desta forma, mas
justificam que lhes falta “coragem” ou “companhia”. Acredito que a falta de
coragem decorre da falsa fantasia de que seria desconfortável, sejam os meios
de transporte, seja a hospedagem. Não é verdade, quem já foi sabe que é tudo
limpo, organizado e confortável. A ausência de companhia pode ser um
impeditivo. Eu mesmo (Pablo) demorei para começar por falta de companhia, até
que fiz minha primeira viagem sozinho, quando descobri que você pode viajar
sozinho, mas jamais estará sozinho. As novas amizades são uma constante neste
estilo de viagem e os momentos solitários são definitivamente pequenos.
Voltando
ao relato, viajamos durante toda noite e chegamos muito cedo em Santiago. Estávamos
decididos que a capital seria apenas um “trampolim” para nosso próximo destino,
o norte do Chile. Depois de muitas semanas viajando por pequenas cidades e
paisagens exuberantes, torna-se difícil desfrutar de uma grande metrópole.
Concluímos que visitaríamos Santiago da forma que ela merece em uma outra
oportunidade.
Mal
chegamos na rodoviária de Santiago e já fomos buscar informações a respeito do
trajeto Santiago a Antofagasta ou Calama, ambas no norte do Chile. Descobrimos
que seriam mais de 28 horas de viagem de ônibus e que as opções de data eram escassas.
Ficamos muito preocupados, pois o tempo urgia e não queríamos abrir mão de
nossa proposta inicial. De posse das opções de ônibus, fomos buscar as opções
de voo, quando descobrimos uma ótima opção, acima de tudo barato, junto a uma
companhia local (Sky Airline). Enfim, logo naquela manhã compramos os bilhetes
aéreos para Calama. Como a saída sairia
no dia seguinte, fomos tranquilos
passear em Santiago.
Confesso
que passear por Santiago não foi muito entusiasmante. Depois de passar por
paisagens naturais incríveis, uma cidade repleta de prédios, coberta de uma
névoa de poluição, não tinha como nos surpreender. De fato, a cidade é bonita e
charmosa, talvez numa próxima viagem, consigamos desfrutá-la melhor.
Visitamos
os principais pontos turísticos, especialmente os Cerros (montanhas/morros) que
proporcionavam um visual da cidade. Almoçamos no mercado municipal, como bons aficionados
por frutos do mar que somos. Após um assédio irritante dos inúmeros
restaurantes lá dispostos, optamos por aquele que aparentava ser o mais
frequentado pelos chilenos locais. Comemos a famosa Centolla (uma espécie de
caranguejo gigante). Eu, particularmente, esperava mais deste crustáceo. Achei
sua carne com pouco sabor e consistência. O caranguejo que costumamos comer no
Sul do Brasil é muito melhor, especialmente aquele preparado pelo Chefe Acácio,
meu pai.
fotos da cidade de Santiago
Madrugamos
no aeroporto e embarcamos para Calama (onde está a maior mina de cobre do
mundo: Chuiquimata), haja vista ser esta a cidade mais próxima de nosso destino
final, San Pedro de Atacama. Eu já tinha uma boa idéia da paisagem que
encontraríamos, pois durante uma viagem para Bolívia e Peru fiz um tour próximo
daquela região, partindo do Salar de Uyuni (Bolívia). Eu queria muito que a
Kakau conhecesse aquela paisagem, totalmente diferente do que ela já havia
visto, não só ao longo desta viagem, mas em toda sua vida.
Sobrevoar
a pré-cordilheira, a Depressão Intermédia e a Cordilheira dos Andes foi uma
grande emoção. Aquela imensa região inóspita surpreende, especialmente a nós
brasileiros que não estamos habituados com alta montanha.
Do
aeroporto de Calama a San Pedro de Atacama há opções de transporte público e vans.
Acabamos optando pela van, a qual engasgou durante todo o percurso. O motorista
nos explicou que devido à altitude, há falta de oxigênio no ar, dificultando a
combustão. Enfim, ele se dizia enganado ao comprar um veículo não adaptado para
aquela região.Toda
aquela paisagem me remetia ao livro de que estava lendo em espanhol: La Casa de Los Espíritus, da Isabel
Allende. Este livro descrevia com grande riqueza de detalhes o sul, Santiago e
o norte do Chile.
A
estrada é muito bonita e mística. Grandes longas retas e algumas subidas e
descidas sinuosas. Há inúmeras zonas de escape para os caminhões que perdem o
freio, seja em razão do calor, altitude ou velocidade. Não há árvores ou
vegetação tradicional ao longo do percurso. A primeira vista da cidade gera um
certo espanto, um remoto vilarejo, empoeirado, perdido ao meio do deserto, um
oásis no deserto.
A
cidade “surgiu” durante a exploração do sal, muito abundante na região. Era
conhecido como “ouro branco”. A cidade e seus habitantes viveram períodos
difíceis durante a queda das exportações de sal. Atualmente, o turismo é a sua
principal atividade. Quase nunca chove ali, isto permite que as casas sejam de
adobe (barro), humidade muito baixa (nariz, boca ... tudo fica seco) e há muita
poeira em tudo. Água é um produto escasso e caro. Todo fornecimento de agua
advém do degelo das montanhas, transportado por meio de canaletas, cuja
tecnologia foi desenvolvida pelos povos Incas. Mal chegamos em San Pedro,
seguimos para um dos tours mais famosos: Vale da Lua, Vale da Morte (ou Marte) e
Por do Sol.
Abaixo as construções tipicas da cidade
No
Vale da Lua (o nome já descreve a aparência do local), onde caminhamos nos
desfiladeiros, cercados de paredes de sal, que emitem sons/ruídos em razão das
rachaduras causadas pelas mudanças de temperaturas. O Vale da Morte (ou Marte)
é espetacular, dizem os astrônomos que é a região da terra que mais se aparenta
como Marte, cujo por do sol é o cartão postal da região, um momento mágico!
vale da Lua
Vale da Morte ou Marte
E o fantastico pôr do sol
Já
no segundo dia cedo fomos ao Altiplano Andino, região onde eu queria muito que
a Karina conhecesse. Altiplano é a parte alta dos Andes, perdendo em altitude
apenas para os cumes e vulcões. Neste platô, que principia a 3.000 metros de
altitude, a atmosfera é pura e cristalina, brinda-nos um céu azul constante e
uma luz intensa. É lá onde geralmente se encontram os Salares, Lagunas, Géiseres,
Vulcões, Camelídeos (lhama, vicunha, alpaca e o guanaco), Raposas, Flamingos,
Condores, Cardones (gigantescos cactos) e outras paisagens exuberantes e
únicas.
Neste
passeio, paramos para conhecer o Salar de Atacama (3º. maior salar do mundo e
onde está a maior produção de lítio do planeta). Ele é imenso, porém não é
branco e regular como o Salar de Uyuni. Seguimos pela laguna de Chaxa
(flamingos) e depois para as famosas Lagunas Miscanti, Verde e Minique. Neste
ponto estávamos muito alto, a 4.120 metros de altitude. Caminhar se tornou
difícil e a respiração pesada. Ainda havia resquícios de neve em plena
primavera. Vimos um vídeo da Gloria Maria neste local no inverno, quando eles
tiveram que abrir estrada entre o paredão de neve. Quem tiver curiosidade ai
vai o vídeo dela: http://www.youtube.co.id/watch?v=vgbPBCc8NB8
O lindo Salar de Atacama (Deserto de Sal)
Os lindos Flamingos
Laguna de Chaxa
A caminho das Lagunas Altiplânicas
Laguna Miscanti
Laguna Minique
Laguna Verde
Nesta
região há um “passo” para Argentina, ou seja, uma estrada de acesso ao país
vizinho. Vimos muitas máquinas reformando a estrada, despejando sal de forma a
tornar a estrada mais acessível. No início achei estranho, mas nosso guia nos
explicou que como nunca chove (há lugares onde talvez nunca tenha chovido), o
sal é uma ótima opção de pavimentação.
A estrada de sal
Nosso
último passeio no Atacama nos levaria aos Geysers. Saímos às 3 horas da matina,
numa manhã fria, com destino a uma região mais fria ainda. Fomos orientados a
levar roupas quentes, pois a temperatura estaria entre -10ºC e -20ºC. O
objetivo era amanhecer no campo de Geysers, quando há maior atividade. Nosso
café da manhã foi literalmente aquecido (café e leite) e cozido (ovos) dentro
dos geysers, os quais lançavam água fervendo até 7 metros de altura.
Após
o nascer do sol, a atividade diminui e fomos orientados a nos banhar nas
piscinas termais. Eu já tinha tido esta experiência na Bolívia e sabia que
entrar seria difícil, mas a piscina iria aquecer o corpo, fazendo muita
diferença ao longo do passeio. A Karina resistiu para entrar, mas depois se
deliciou com aquela experiência única, tirar a roupa numa temperatura abaixo de
zero e se banhar numa piscina natural extremamente aquecida.
Em
seguida paramos numa Aldeia, ainda no Altiplano (inimaginável alguém vivendo
naquele lugar inóspito), onde se vendia pastel de queijo de lhama e churrasco
de lhama. A Karina sentiu a altitude e ficou sonolenta.
Alguns animais pelo caminho
Pequena aldeia perdida no meio do deserto
Nesta
noite, nós iríamos fazer um tour para observar as estrelas. São 330 noites
claras por ano e um dos céus mais limpos de todo o planeta. Não por menos, é lá
onde está instalado o telescópio mais poderoso do mundo, batizado de Alma.
Porém, infelizmente, naquela noite pairava no ar uma nuvem de poeira que forçou
a agência a cancelar o tour.
Na
manhã seguinte, cruzamos a fronteira com a Argentina, pelo “passo de rama”, com
destino a Salta. Saímos de San Pedro de Atacama por volta das 10 da manhã. O
ônibus era confortável e a viagem foi tranquila até a parada na fronteira Chile
– Argentina. Foram 3 horas parados, super cansativo e desgastante. O que
compensou o cansaço foram as maravilhosas paisagens na estrada, a pista era
sinuosa e alguns trechos ficamos até com um pouco de medo devido ao ônibus
passar rente aos penhascos.
Neste
percurso, atingimos a maior altitude de toda viagem. Havia um americano ao
nosso lado no ônibus com um GPS que identificou 4.800 metros de altitude.
Passamos muito próximos da tríplice fronteira (Chile/Bolívia/Argentina), na
região do esplêndido Vulcão Licancabur, onde estive há alguns anos.
Aeee, finalmente. Adorei!
ResponderExcluirEm setembro estarei lá!!
Bjooos casal
Van